Seminário Brasil-Cuba reforça relações entre países da América Latina e Caribe

Texto: Ana Ornelas, José Irani e Gabriela Villen | Revisão: Felipe dos Santos | Fotos: José Irani e Gabriela Villen

A Pró-reitoria de Extensão, Esporte e Cultura (ProEEC) da Unicamp, em parceria com a Casa de Las Américas, realizou, nos dias 25 e 26 de março, o Seminário Internacional Brasil-Cuba, com o tema “Experiências de Indissociabilidade entre Extensão, Esporte, Cultura e Saúde”. O evento teve como objetivo repensar a cooperação entre os países do eixo Sul-Sul, destacando a importância de parcerias institucionais, culturais e de pesquisa que incluam América Latina e Caribe.

Para Sylvia Furegatti, diretora de Cultura da ProEEC e organizadora do evento, o Brasil está em um momento de redescobrir seu papel na América Latina, o que estimula reflexões sobre as possibilidades oferecidas pela cultura, pelo esporte e pela extensão. “A ProEEC tem crescido inquestionavelmente dentro da universidade. Ao incorporar saberes e estruturas da América Latina e do Caribe, ampliamos nossa diversidade e aprimoramos o funcionamento e a gestão institucional”, afirmou.

Sylvia Furegatti em seu discurso de abertura no Seminário Brasil-Cuba.

Já Osvaldir Pereira Taranto, diretor de Relações Internacionais da Unicamp, destacou a importância do evento para a relação entre os dois países. “O esforço contínuo da Unicamp e da Casa de Las Américas para aprimorar a formação acadêmica e criar mecanismos que incentivem a internacionalização, tanto no ensino e na pesquisa quanto nas áreas de extensão, cultura, saúde e esporte, é um dos grandes frutos desse debate”, pontuou.

Do ponto de vista das relações diplomáticas entre os dois países, o Cônsul Geral de Cuba em São Paulo, Benigno Pérez Fernandez, destacou que o Seminário fortalece as relações entre os países e entre suas instituições. “Nosso trabalho é contribuir para o bem-estar das nações e, às vezes, tornar possível o que parece impossível quando há dificuldades de entendimento. Mas, no caso do consulado em São Paulo, essa aproximação entre brasileiros e cubanos acontece naturalmente, pois são os povos mais parecidos do continente”, observou. 

Marco Aurélio Cremasco, assessor da ProEEC, que representou o pró-reitor Fernando Coelho no evento, destacou que a visita técnica realizada em 2024 por docentes a instituições culturais, acadêmicas e de saúde pública em Havana, capital de Cuba, foi a base estrutural do seminário. Segundo ele, esse intercâmbio fortaleceu o caráter dialógico do encontro. “Queremos que essa parceria nos traga novos conhecimentos e aprendizados. Ao buscar essa relação dialógica com sociedades além do Brasil, abrimos espaço para novos estudos dentro da Unicamp”, afirmou.

Arte, cultura e integração 

O seminário abordou a aproximação entre os dois países de várias perspectivas. A primeira mesa teve como foco aspectos culturais e históricas da relação entre Brasil e Cuba. Jaime Gómez Triana, trouxe a experiência da Casa de las Américas, que desde 1959 promove o intercâmbio cultural entre Cuba e os demais países da América Latina e do Caribe.

Claudete de Castro Silva Vitte, do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp, trouxe em sua apresentação os conceitos de “soft power” e “paradiplomacia”, que é a prática de relações internacionais por entidades subnacionais, como estados, municípios, províncias ou regiões, com objetivo de promover interesses próprios sem a necessidade de intervenção direta do governo central. Dessa forma, ela refletiu sobre como as instituições podem participar dessa ação de fomento da cultura e do estreitamento do eixo Sul-Sul.

À esquerda, Claudette de Castro Silva Vitte. Mediando a mesa, Petrilson Alan Pinheiro da Silva (IEL Unicamp) e, à direita, Jaime Gómez Triana.

Arquitetura e memória

Para Ruslan Muñoz, professor de Arquitetura e Engenharia Civil da Universidad Tecnológica de La Habana “José Antonio Echeverría” – Cujae, reconhecer essa troca é essencial para estreitar as relações no eixo Sul-Sul. “É fundamental compartilhar experiências e identificar as fortalezas de cada instituição para desenvolvermos projetos conjuntos. Assim, contribuímos para a formação de sociedades melhores e reforçamos o papel das universidades nesse processo”, destacou. Muñoz apresentou aspectos da arquitetura cubana, comparando, por exemplo, as cidades de Havana e Miami e os impactos da revolução e imigração em sua distribuição demográfica.

Em sua apresentação, José Alves, professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, problematizou a ideia de uma latinidade única, destacando as particularidades regionais, como suas caraterísticas históricas e linguísticas. Como exemplo das diferenças, também foi citado o desenvolvimento de temas como racismo, homofobia e transfobia, considerado em estágios diferentes em casa país.

À esquerda, José Alves. Mediando a mesa, Claudio Lima Ferreira (DCult – ProEEC/ IA – FECFAU Unicamp) e, à direita, Ruslan Muñoz.

Esporte e atletas

Os palestrantes Silvano Merced Len, membro da reitoria da Universidad de Ciencias de la Cultura Física y el Deporte “Manuel Fajardo”, e Julia Gelli Costa, diretora de Excelência Esportiva e Promoção de Eventos da Secretaria Nacional de Excelência Esportiva do Ministério do Esporte (SNE), discutiram o esporte como agente de transformação social. A mediação foi de Leandro Mazzei, vice-diretor de esportes da ProEEC.

Silvano destacou que o esporte, quando interligado à saúde e à educação, pode ser um fator de desenvolvimento significativo nos países. Além disso, o professor destacou como a preservação cultural pode ser mantida por meio do esporte, ressaltando a importância de programas de extensão com caráter esportivo dentro das universidades. Já Julia apresentou as iniciativas da SNE para incentivar a dupla carreira esportiva, permitindo que atletas de alto rendimento conciliem os estudos com a prática esportiva, sem precisar escolher entre um ou outro. Com isso, ela complementou a visão de Silvano sobre a importância da integração entre esporte, educação e saúde.

À esquerda, Silvano Marced Len. Mediando a mesa, Leandro Mazzei (ProEEC – Desporte / FCA – Unicamp) e, à direita, Julia Gelli Costa.

Saúde pública

Os desafios da saúde pública, as aproximações e os distanciamentos entre a realidade brasileira e cubana foram o foco da última mesa de debate do Seminário, mediada pelo Dr. Rubens Bedrikow, da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp. 

A Dra. Ileana del Rosário Morales Suarez, diretora de Ciência e Inovação Tecnológica do Ministério da Saúde de Cuba, foi enfática em afirmar as prioridades da gestão da saúde em Cuba. “Inovação e desenvolvimento científico custam caro. Portanto, é preciso ter claras as prioridades. A nossa prioridade é resolver os problemas de saúde da população”, afirmou. Segundo ela, 80% desses problemas podem ser resolvidos na atenção primária e apenas 20% precisam de especialistas e super-especialistas. “Cuba, desde 1959, entendeu que a medicina tem que ser preventiva. Para chegar onde chegamos, foi preciso elaborar um novo plano, formar professores, mudar a formação de médicos e profissionais de saúde e priorizar a atenção primária”, relatou. A gestão da pandemia de COVID-119, liderada por Suárez, permitiu que o país tivesse a menor mortalidade do continente, além do desenvolvimento de 5 vacinas. Da mesma forma, dados como o número de médicos por habitante e de mortalidade materna e infantil destacam Cuba entre os melhores índices do mundo. 

Dr. Gustavo Tenório Cunha, professor do Departamento de Saúde Coletiva da (FCM) da Unicamp, traçou paralelos entre o sistema cubano e o Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro. “A gente se encontra na defesa da transformação social”, afirmou. Cunha destacou diferenças nas relações estabelecidas entre médicos e pacientes, citando aprendizados e desconfortos presenciados durante o Programa Mais Médicos, que levou profissionais cubanos aos postos de saúde brasileiros. “Os médicos cubanos nos colocaram um espelho, para refletirmos sobre nossas relações. A relação deles com o povo é muito diferente”, relatou. 

À esquerda, Dr. Gustavo Tenório Cunha. Mediando a mesa, Rubens Bedrikow (FCM-Unicamp) e, à direita, Dra. Ileana del Rosário Morales Suarez.

Todos os debates foram transmitidos ao vivo pelo canal da ProEEC no YouTube e serão disponibilizados em breve.

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